JC LOGÍSTICA
MONTADORAS
Notícia da edição impressa de 19/05/2016.
Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade
da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos
Em um ano, 11,2 mil demissões nas montadoras Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos CHERY/DIVULGAÇÃO/JC
Nos últimos 12 meses, as montadoras demitiram 11,2 mil trabalhadores, 1,4 mil deles neste ano. Atualmente, há 36,5 mil funcionários no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), com jornada e salários reduzidos, e outros 6,3 mil em lay-off (contratos suspensos), o equivalente a 32% da mão de obra do setor, de 128,4 mil pessoas. "Vai chegar um momento em que parte desse pessoal afastado será demitido", admite João Morais, economista da Tendências Consultoria, especializado no setor automotivo.
Segundo ele, mesmo que comece a ocorrer uma recuperação do mercado no próximo ano, vai levar ao menos uma década para que o setor volte a operar com níveis mais elevados de sua capacidade produtiva. As montadoras, de acordo com cálculos da Tendências, têm capacidade para produzir cerca de 4,5 milhões de veículos e, neste ano, deve fabricar metade disso.
"A indústria automobilística brasileira atingiu vendas de 3,8 milhões de veículos muito cedo, em 2012, mas foi um crescimento sem bases consistentes, ancorada no crédito fácil e no aumento da renda sem crescimento da produtividade", avalia Morais. Em sua opinião, o mercado vai demorar a recuperar esses níveis, e as fabricantes devem continuar operando com ociosidade por algum tempo.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, uma alternativa é o mercado externo. "As empresas devem ser mais agressivas nas exportações - buscando mercados novos - e na nacionalização de componentes." De janeiro a abril, as exportações cresceram 24,3% ante igual período de 2015, para 136,3 mil veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Com a drástica queda nas vendas de veículos, que, em quatro anos, despencaram de 3,8 milhões de unidades para esperadas 2 milhões neste ano, as montadoras aproveitam para rever benefícios há tempos concedidos aos funcionários, sempre tidos como os mais bem pagos na indústria brasileira. Também tentam ajustar o quadro de trabalhadores em fábricas que operam com metade da capacidade produtiva.
Só em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde estão cinco das maiores fabricantes do País, há 4.170 funcionários declarados ociosos por Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen.
A Volvo, de Curitiba (PR), fala em 400 excedentes em seu quadro. Desde 2015, grande parte das montadoras não pagou o reajuste pela inflação aos salários. A Participação nos Lucros e Resultados (PLR) vem caindo, acompanhando o desempenho das empresas. A Volvo, que em 2013 pagou R$ 30 mil em PLR aos funcionários, em 2015 entregou R$ 12 mil e, neste ano, quer que os trabalhadores abram mão de R$ 5 mil, mesmo antes de ter negociado o valor a ser pago. "Podemos até negociar esse e outros itens, mas desde que não ocorram demissões", diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, Nelson Silva de Souza. "Ocorre que a empresa quer reduzir benefícios e ainda cortar 409 vagas."
Na semana passada, a fábrica de caminhões e ônibus parou pelo segundo dia seguido, em razão de protesto dos trabalhadores. Outro item que já aparece nas demandas de ao menos duas montadoras - Ford e General Motors, e também já citado pela Toyota - é o fim da estabilidade para trabalhadores com doenças profissionais. "Seria um grande retrocesso", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.
A Volkswagen pediu férias coletivas a quase 90% dos seus empregados em Taubaté, no interior de São Paulo, informou, na sexta-feira, o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. A fábrica da montadora na cidade conta com 4,5 mil funcionários, dos quais 4 mil entrarão em férias coletivas entre os dias 30 de maio e 18 de junho, se o pedido for aceito. Até os mecanismos adotados em períodos de crise, como o lay-off e o PPE - defendido no governo por empresas e sindicatos -, devem ser deixados de lado.
Ford e Mercedes-Benz já declararam intenção de não renová-los. "Não vamos aceitar que as empresas façam uma sangria, até porque há sinais de que o mercado vai se recuperar a partir de 2017", afirma Marques. Ele diz entender que a situação atual é grave, mas acha possível administrá-la com mecanismos como PPE, lay-off e PDVs (programas de demissão voluntária). "Mas, se as empresas insistirem (em cortes), o conflito será grande."
A Mercedes, que afirma ter 2 mil excedentes na fábrica do ABC, vai anunciar, nos próximos dias, novo plano de PDV e colocará mais um grupo de trabalhadores em licença remunerada por tempo indeterminado. A empresa já tem mais de mil operários em dispensa desde fevereiro. O PPE, que estabelece redução de jornada e salários em 20% para 8 mil trabalhadores, se encerra no fim do mês e, como não será renovado, eles voltarão a trabalhar cinco dias por semana. Hoje, trabalham quatro.
A Toyota propôs ao Sindicato os Metalúrgicos de Campinas a contratação de trabalhadores temporários para a fábrica de Indaiatuba (SP) com piso salarial de R$ 1.870,00, embora para os contratados seja de R$ 2.194,00. Hoje, a unidade opera com horas extras. A Toyota também quer aumentar o valor pago pelos trabalhadores para o vale-transporte e o vale-refeição e adotar a coparticipação no convênio médico. "Só esses três itens representam R$ 350,00 a menos no salário do trabalhador", afirma o presidente do sindicato, Sidalino Orsi Júnior.
Ford, Mercedes-Benz e Volvo também negociam com os sindicatos a flexibilização das relações trabalhistas e formas de compensação para manter empregos, mas não dão detalhes das propostas. - Jornal do Comércio
A Toyota propôs ao Sindicato os Metalúrgicos de Campinas a contratação de trabalhadores temporários para a fábrica de Indaiatuba (SP) com piso salarial de R$ 1.870,00, embora para os contratados seja de R$ 2.194,00. Hoje, a unidade opera com horas extras. A Toyota também quer aumentar o valor pago pelos trabalhadores para o vale-transporte e o vale-refeição e adotar a coparticipação no convênio médico. "Só esses três itens representam R$ 350,00 a menos no salário do trabalhador", afirma o presidente do sindicato, Sidalino Orsi Júnior.
Ford, Mercedes-Benz e Volvo também negociam com os sindicatos a flexibilização das relações trabalhistas e formas de compensação para manter empregos, mas não dão detalhes das propostas. - Jornal do Comércio